A sucessão de entrevistas concedidas por Carlos Belmonte após deixar o cargo de diretor de futebol expôs contradições, fragilidades e um movimento político cada vez mais evidente. Para muitos analistas, o comportamento recente do ex-dirigente não apenas revela incoerências na própria trajetória como também acende um alerta sobre os riscos que sua eventual candidatura à presidência representaria para o São Paulo.

A principal crítica apontada por Mauro Cezar Pereira diz respeito à falta de credibilidade. Belmonte tenta se colocar como voz de renovação ao mesmo tempo em que defendeu por quatro anos a gestão que hoje critica. O discurso não sustenta a realidade: o São Paulo seguiu coadjuvante, sem perspectiva clara de mudança, e a dívida quase dobrou no período em que ele próprio atuou como dirigente. Para um possível candidato, trata-se de uma contradição que fragiliza qualquer promessa de reestruturação.

O conteúdo financeiro levantado por Belmonte também não supera o escrutínio. O ex-diretor celebra superávit operacional, mas ignora que o resultado foi sustentado pela venda constante de atletas da base, prática que ele mesmo defendia como solução. A gestão de Cotia, segundo críticos, tornou-se um caixa emergencial permanente, esvaziando patrimônio técnico e deixando o elenco dependente de contratações sem custo — estratégia que produziu mais lesões que desempenho.

Outro ponto de preocupação é a forma como Belmonte passou a se movimentar após a saída. As entrevistas alinhadas, o discurso direcionado contra Casares e a tentativa de reposicionamento público sugerem cálculo político. Mesmo ao negar que deseja concorrer, mantém o terreno preparado para uma eventual candidatura. Para parte da torcida, trata-se de oportunismo: quem participou integralmente da gestão que critica não se apresenta como alternativa confiável.

A incoerência percebida pelos torcedores se amplia quando Belmonte tenta se colocar como conselheiro e reformador de um modelo que ele próprio ajudou a sustentar. Se o clube vive problemas estruturais, dívidas acumuladas, elenco fragilizado e queda de competitividade, a responsabilidade é também dele. Colocá-lo como potencial presidente, diante desse histórico, representa risco evidente: o de perpetuar o ciclo que mantém o São Paulo estagnado.