Dois estudos publicados em Nature e Science revelam um cenário que redefine a segurança eleitoral: chatbots de inteligência artificial são capazes de alterar preferências políticas em até 25 pontos percentuais após interações breves. Em testes conduzidos com dezenas de milhares de participantes em quatro países, os modelos de IA mostraram poder de persuasão superior ao de campanhas tradicionais — mas também maior propensão a produzir conteúdo impreciso, criando um ambiente fértil para manipulação política.
No estudo da Nature, eleitores americanos, canadenses e poloneses tiveram suas posições deslocadas entre 3 e 10 pontos percentuais após conversas rápidas com chatbots alinhados a candidatos específicos. Já a pesquisa britânica, publicada na Science, foi ainda mais alarmante: um modelo otimizado para persuasão conseguiu mover opositores em 25 pontos percentuais. O impacto decorre não de técnicas psicológicas, mas da densidade de informações apresentadas. Quanto mais fatos o modelo era instruído a fornecer, maior a capacidade de convencimento.
O problema central emerge quando se analisa a precisão dessas informações. Em 466 mil alegações verificadas, 19% eram predominantemente falsas. Além disso, chatbots pró-direita fabricaram mais dados imprecisos do que os pró-esquerda em todos os países avaliados. A explicação dos pesquisadores é direta: ao buscar maximizar a persuasão, o modelo exaure seu estoque de informações verdadeiras e começa a inventar, sem sinalizar ao usuário a fronteira entre fato e ficção.
Os efeitos não são apenas momentâneos. Entre 36% e 42% das mudanças de opinião persistiram por um mês, sugerindo impacto real e duradouro. Embora a IA só influencie quem de fato interage com ela, esse contágio informacional pode alterar resultados em disputas apertadas, especialmente entre indecisos.
O risco democrático é evidente: modelos capazes de fabricar dados, operar em escala massiva e direcionar argumentos personalizados criam assimetrias de informação sem precedentes. Sem regulação clara, a IA persuasiva se torna uma ferramenta potencialmente destrutiva — não por sua inteligência, mas pela velocidade e credibilidade com que dissemina imprecisões que podem definir o futuro político de países inteiros.
