O constrangimento de Carlo Ancelotti no 2º Fórum Brasileiro dos Treinadores de Futebol, diante das críticas de Emerson Leão e Oswaldo de Oliveira, revelou muito mais que um embate de opiniões. Expôs o abismo estrutural que separa o discurso de valorização dos técnicos brasileiros da realidade de uma categoria enfraquecida e despreparada para competir no cenário global.
Leão e Oswaldo verbalizaram um sentimento legítimo: a perda de espaço para estrangeiros. Mas o desconforto de Ancelotti também revelou uma verdade incômoda. O treinador italiano não foi convidado apenas para vencer a Copa do Mundo, mas para corrigir falhas que o próprio sistema brasileiro deixou prosperar — formação precária, falta de intercâmbio e resistência a métodos modernos. Sua fala sobre a “fraqueza da figura do técnico brasileiro” doeu porque é real.
Os dados reforçam a crítica. Nos últimos anos, treinadores estrangeiros tiveram melhor desempenho na Série A, enquanto o último técnico brasileiro em uma grande liga europeia atuou há mais de uma década. A formação oferecida pela CBF é recente e ainda tímida diante dos padrões internacionais. A consequência é um mercado fechado, autossuficiente e acomodado, que reage com xenofobia ao que deveria ser visto como oportunidade de aprendizado.
Ancelotti traz não só prestígio, mas chance de transformação. Se sua presença resultar em transferência de conhecimento e fortalecimento institucional, o Brasil ganha. Se servir apenas de escudo para esconder falhas históricas, será mais um capítulo de dependência.
O debate, portanto, não é sobre nacionalidade, e sim sobre competência. A Seleção precisa vencer, mas o futebol brasileiro precisa evoluir. A reação defensiva dos técnicos veteranos revela apego ao passado. O futuro, porém, exige humildade para aprender e coragem para mudar.
