A política brasileira segue refém da lógica do espetáculo. Em vez de cuidar do que já existe, muitos gestores preferem erguer novas estruturas apenas para exibir resultados visíveis. O asfalto novo, a praça reformada ou o prédio recém-pintado servem mais como vitrines eleitorais do que como soluções para os problemas reais da população. Essa prática, embora rentável em termos de imagem, mina a eficiência pública e perpetua o ciclo da má gestão.
A motivação é clara: a obra nova rende foto, discurso e inauguração. Já a manutenção, invisível e contínua, não dá palco nem aplauso. Assim, o prefeito que deveria zelar por escolas, hospitais e ruas acaba desviando recursos para erguer símbolos de progresso, muitas vezes desnecessários. Nos meses que antecedem as eleições, essa corrida se intensifica — obras apressadas, anúncios apoteóticos, prazos ignorados. O resultado é previsível: canteiros abandonados, estruturas precárias e serviços que pioram a cada gestão.
O custo é duplo. De um lado, o desperdício de dinheiro público em obras inacabadas, sucateadas antes mesmo da entrega. De outro, o abandono daquilo que já funciona. Cada buraco não tapado, cada escola sem reparo ou hospital com infiltração representa a face mais concreta da ineficiência. A falta de manutenção é mais cara do que qualquer inauguração.
A solução exige inversão de valores: concluir o que foi iniciado, manter o que já existe e planejar o que é realmente necessário. Eficiência administrativa não se mede pelo número de fitas cortadas, mas pela continuidade e qualidade dos serviços públicos. Transparência, planejamento e responsabilidade são pilares de uma gestão que busca legado, não palco.
Enquanto o foco for o marketing e não o resultado, o Brasil continuará sendo o país das obras eternas — onde o concreto é novo, mas o descaso é o mesmo.
