O caso dos filhotes de cachorro encontrados mortos e queimados em Pombal expõe, mais uma vez, uma ferida que o Brasil insiste em ignorar: a violência contra animais não é exceção, é rotina. A brutalidade aplicada contra seres indefesos revela não apenas crueldade individual, mas também a falência de políticas públicas de proteção animal. Quando criminosos se sentem à vontade para incendiar filhotes em um terreno baldio, é porque confiam na impunidade — e, lamentavelmente, quase sempre estão certos.
A ONG Quatro Patas cumpre um papel que deveria ser do poder público: acolhe, trata e protege animais abandonados com recursos escassos e apoio voluntário. A morte dos filhotes, portanto, não é apenas uma tragédia moral; é o resultado direto da ausência de fiscalização, de políticas estruturadas e de segurança mínima para quem se dedica a salvar vidas. Em cidades menores, como Pombal, essa vulnerabilidade se agrava, pois faltam delegacias especializadas, equipes treinadas e resposta rápida das autoridades.
A investigação anunciada é necessária, mas não suficiente. A reação estatal costuma ser reativa e episódica, surgindo apenas após crimes que geram comoção. O caminho ideal e realista exige institucionalização: criação de núcleos de proteção animal nas guardas municipais, monitoramento sistemático de áreas de descarte, responsabilização rápida e exemplar dos agressores, além de convênios estáveis entre prefeituras e ONGs. A comunidade também precisa assumir seu papel, denunciando ameaças e comportamentos violentos antes que se transformem em tragédias.
O país só avançará quando abandonar a visão de que crimes contra animais são “de menor importância”. Violência não nasce grande; ela se alimenta da indiferença. Se o poder público continuar agindo apenas depois da barbárie consumada, outros casos como o de Pombal se repetirão. A prevenção não é utopia — é decisão política. E é exatamente isso que ainda falta.
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