Há momentos em que a história de um estado se escreve não pelo barulho dos discursos, mas pelo silêncio das contradições. A Paraíba se aproxima de um desses momentos. À medida que o tabuleiro político de 2026 se movimenta, as figuras que se apresentam como “mudança” carregam consigo mais interrogações que promessas.
Cícero Lucena surge novamente no centro da cena, como quem tenta se reinventar após décadas de enredos já conhecidos. Seu nome, que atravessou investigações, prisões e absolvições, agora retorna em meio a novas suspeitas — dessa vez, mais graves, envolvendo o uso da estrutura pública em negociações com o submundo. A cada eleição, o discurso é o mesmo: o da experiência. Mas talvez o eleitor comece a perceber que a experiência, sem propósito coletivo, se transforma em sobrevivência.
Vale lembrar que Cícero só voltou à cena política com o apoio decisivo do atual governador João Azevêdo e da família Ribeiro. Foi esse grupo que o reconduziu ao protagonismo, garantindo-lhe vitória e reeleição na capital. Hoje, porém, ele abandona o projeto coletivo que o ressuscitou politicamente para embarcar numa aventura pessoal, ao lado de quem simboliza o retrocesso que a Paraíba vem superando. O mesmo homem que pregava união agora prefere o caminho solitário da conveniência.
Efraim Filho, por sua vez, parece flutuar entre polos opostos, adaptando-se ao vento político que mais sopra. De um lado, abraça o bolsonarismo; de outro, mantém cargos e pontes com o governo federal que diz combater. Sua história familiar e suas próprias escolhas sugerem que o discurso ético se tornou, para alguns, apenas retórica bem ensaiada. O velho jogo da conveniência continua a se repetir, agora com novas cores partidárias.
Enquanto isso, o governador João Azevêdo manteve a coerência, indicando o vice Lucas Ribeiro para dar continuidade a um governo que tem feito a Paraíba avançar. Obras estruturantes, equilíbrio fiscal e políticas sociais sólidas são marcas de uma gestão que optou por governar em vez de guerrear. É fácil ignorar o que funciona quando o grito da ambição política é alto demais.
Talvez o eleitor, cansado de apostas que começam em esperança e terminam em manchete, prefira o caminho que oferece menos ruído e mais constância. Em tempos de disfarces ideológicos e alianças por conveniência, coerência é a virtude mais rara — e, portanto, a mais valiosa.
