A megaoperação deflagrada em 28 de outubro de 2025 nos complexos do Alemão e da Penha marcou o episódio mais letal da história da segurança pública do Rio de Janeiro. Com 119 mortos oficialmente reconhecidos — entre eles quatro policiais —, a chamada Operação Contenção superou em número de vítimas o massacre do Jacarezinho (2021) e até o do Carandiru (1992). A ação mobilizou 2,5 mil agentes e teve como meta cumprir cerca de 100 mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho, em especial lideranças ligadas à expansão territorial da facção no Grande Rio.

Durante a operação, confrontos intensos transformaram as comunidades em zonas de guerra. O uso de explosivos por drones, barricadas e bloqueios em diversas vias paralisou a cidade. Escolas, universidades, comércios e transportes foram interrompidos. Moradores relataram medo e perdas dentro de casa, enquanto dezenas de corpos foram encontrados por civis em áreas de mata, número ainda em revisão.

O governador Cláudio Castro classificou a ação como “um sucesso”, alegando legítima defesa do Estado. Já o governo federal e organismos internacionais, como ONU, Anistia Internacional e Human Rights Watch, expressaram preocupação com a dimensão letal e pediram investigação independente. Especialistas em segurança apontam falhas estruturais e questionam a lógica de operações de confronto direto, que produzem alta letalidade sem enfraquecer o crime organizado.

Segundo estudos da UFF e do Instituto Fogo Cruzado, a expansão do Comando Vermelho decorre de fatores econômicos, corrupção institucional e ausência de políticas públicas duradouras. A morte de centenas de suspeitos, argumentam analistas, não atinge o núcleo financeiro nem a rede de proteção política das facções.

Enquanto o debate sobre responsabilização avança no Legislativo e no Judiciário, permanece a pergunta central: até que ponto operações que priorizam o abate em massa e o controle territorial imediato, sem investimento em inteligência e prevenção, podem ser chamadas de sucesso? A resposta, sugerem os fatos, não está nas armas, mas na capacidade do Estado de reconstruir autoridade com legitimidade e planejamento — não com corpos.