Em muitas cidades brasileiras, o poder público local transformou a comunicação institucional em instrumento de controle político. Prefeitos e gestores municipais, amparados pelo orçamento público, distribuem verbas de publicidade não como política de informação, mas como moeda de troca. A imprensa que elogia é recompensada; a que critica é punida com o corte de contratos e isolamento. Esse método, mais sutil que a censura explícita da ditadura, é igualmente corrosivo para a democracia.

O redirecionamento estratégico de verbas de comunicação tornou-se forma moderna de censura. O dinheiro público, que deveria financiar campanhas de interesse coletivo, serve para construir narrativas personalistas e blindar administrações. Em vez de responder a questionamentos, prefeitos preferem patrocinar quem reproduz versões convenientes. Não há necessidade de ameaçar repórteres: basta controlar os recursos que garantem a sobrevivência de seus veículos.

A tática é reforçada pela judicialização da crítica. Processos milionários contra jornalistas e comunicadores locais intimidam quem ousa fiscalizar o poder. Muitos desses processos nem buscam vitória jurídica — apenas impor desgaste financeiro e psicológico. O resultado é previsível: autocensura, medo e silêncio. O Judiciário, em vez de guardião da liberdade, acaba atuando como extensão da pressão política.

Nas redes sociais, prefeitos replicam o modelo nacional de manipulação: criam exércitos de influenciadores pagos com dinheiro público para disseminar propaganda travestida de conteúdo neutro. A máquina municipal de comunicação se converte em ferramenta eleitoral contínua. Enquanto isso, programas independentes são desmonetizados, perseguidos ou têm seu espaço reduzido por interferência indireta do poder.

A consequência é grave. Sem imprensa livre, a população perde o acesso a informações que permitem fiscalizar contratos, entender gastos e cobrar coerência entre discurso e prática. O silêncio se torna política pública. Democracias não morrem por decreto, mas por asfixia: uma verba negada aqui, um processo ali, uma crítica suprimida acolá.

O antídoto é transparência e vigilância cívica. A imprensa não deve ser dependente de governos, e o cidadão deve desconfiar de quem tenta controlar a narrativa sob o pretexto de “comunicação institucional”. A verdadeira comunicação pública é aquela que informa, não a que silencia. Quando prefeitos confundem governo com propaganda, é sinal de que já não governam — apenas administram o próprio aplauso.