Em 2024, o Brasil consolidou sua posição como protagonista tecnológico da América Latina e um dos principais atores do setor em escala mundial. O país investiu US$ 58,6 bilhões em Tecnologia da Informação (TI), alcançando a 10ª posição global e registrando crescimento de 13,9% em relação ao ano anterior.

Na região, a liderança é incontestável: 34,7% de todo o investimento latino-americano em TI veio do Brasil, bem à frente de México (22,1%) e Argentina (13,6%). Quando incluídas telecomunicações, dentro do setor de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), o país sobe à 9ª posição global.

O motor dessa transformação é a Inteligência Artificial (IA). Atualmente, 90% das grandes empresas brasileiras já a utilizam em diferentes aplicações. Só em 2025, os projetos de IA generativa devem movimentar US$ 2,4 bilhões, 30% a mais que no ano anterior. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) prevê investimentos de R$ 23 bilhões até 2028. São 144 centros de pesquisa em IA espalhados pelo território nacional e uma produção científica que já coloca o Brasil em 13º lugar mundial.

A força do setor se expressa em segmentos estratégicos: financeiro (23,2%), serviços e telecom (17,1%), indústria (13,9%) e varejo (9,8%). Em 2024, quase metade dos investimentos foi em hardware (47,6%), seguido de software (30,8%) e serviços de TI (21,6%). Para 2025, a expectativa é crescer 9,5%, superando a média global (8,9%).

No ecossistema de inovação, o país conta com US$ 3 bilhões em dry powder (capital ainda não investido), 70% das edtechs latino-americanas e uma multiplicação do número de unicórnios — de 14 em 2020 para 39 em 2025. Cerca de 30% das startups já nascem como AI-native e outras 41% usam IA para otimizar seus serviços.

Mas o caminho não é sem obstáculos. O maior desafio está na formação de mão de obra qualificada. Para cada 11 estudantes de Direito ou Administração, há apenas 1 em tecnologia. Entre 2021 e 2025, a demanda será de 800 mil profissionais, mas apenas 270 mil estarão disponíveis, gerando déficit de 530 mil. Além disso, 20 milhões de brasileiros seguem desconectados e só 22% têm boa conectividade, o que agrava desigualdades digitais.

No campo regulatório, o PL 2.338/2023, aprovado no Senado, busca alinhar o Brasil às práticas globais em IA, mas sua tramitação lenta ainda gera insegurança. A baixa proporção de investimento em P&D (1% do PIB, contra 2,4% na OCDE) também limita o avanço frente a concorrentes internacionais.

Apesar disso, projetos como o Rio AI City, que transformará o Parque Olímpico em um campus de IA movido a energia limpa até 2032, mostram que o Brasil pode se tornar referência em inovação sustentável. O país também já é reconhecido globalmente pelo Pix, que movimentou R$ 26 trilhões em 2024, e pelo Gov.br, que atinge 82% da população.

O Brasil figura hoje entre os 50 países mais inovadores do mundo, liderando a América Latina. O futuro dependerá de como o país enfrentará três missões urgentes: formar talentos, reduzir desigualdades digitais e acelerar investimentos em pesquisa. Se vencer esses desafios, tem tudo para transformar seu protagonismo regional em uma liderança tecnológica global sustentável.