O 7 de Setembro de 2025, data que deveria ser a celebração máxima da soberania e da independência do Brasil, foi sequestrado por um espetáculo de contradição e subserviência. Enquanto milhões de brasileiros honravam o verde e amarelo, um segmento específico das manifestações bolsonaristas optou por hastear uma bandeira estrangeira: a dos Estados Unidos. O gesto, longe de ser uma mera excentricidade, é a confissão pública de uma derrota ideológica e a materialização de um complexo de vira-lata que beira o patético.

A justificativa circulante entre os que ostentavam as estrelas e listras é duplamente preocupante. Primeiro, a ideia de um "agradecimento" ao ex-presidente Donald Trump por supostas sanções e tarifas que, na realidade, prejudicaram a economia nacional e o agronegócio que muitos dizem representar, é de uma ingenuidade econômica alarmante. Celebrar medidas que dificultam a vida do país é o ápice da contradição.

Segundo, e mais grave, é a noção de que a bandeira americana simboliza um pedido de "socorro externo" contra uma suposta "ditadura" instalada no Brasil. Este raciocínio não é apenas factualmente errado — já que é justamente o Supremo Tribunal Federal, alvo de seus ataques, que garante o Estado Democrático de Direito — mas é profundamente anti-patriótico. É a admissão clara de que, para certos grupos, a pátria não é o Brasil, mas uma ideologia. E quando essa ideologia se vê contrariada pelas urnas e pela Justiça, eles não hesitam em buscar um protetorado internacional imaginário, traindo o princípio mais básico de uma nação soberana: a capacidade de resolver seus próprios conflitos.

O que esses manifestantes não percebem, ou se recusam a admitir, é que ao erguer a bandeira de outra nação em um ato político doméstico, eles não estão se mostrando fortes ou conectados a uma potência global. Estão, na verdade, se curvando. É a encenação simbólica de uma submissão voluntária, um atestado de que sua lealdade é condicional e transacionável. Enquanto a esquerda, com todos os seus debates internos, uniu-se em torno dos símbolos nacionais para defender a democracia, a ala radical da direita escolheu o caminho inverso: diluir o símbolo máximo da pátria em meio a uma iconografia estrangeira de protesto.

O gesto de carregar a bandeira dos EUA nas manifestações de 7 de setembro é mais do que um mero desserviço cívico; é a capitulação simbólica de um projeto que, ao perder a capacidade de dialogar com a própria nação, busca validação em um poder estrangeiro. É o ato final de quem, não conseguindo conquistar o coração dos brasileiros, decide trocar a pátria pela fantasia de um império que nunca virá salvá-lo. Uma independência, afinal, que eles próprios se recusam a exercer.