A relação entre governo e imprensa nos Estados Unidos sempre foi marcada por tensão. Apesar de a Primeira Emenda garantir a liberdade de expressão, episódios ao longo da história revelam momentos em que o poder estatal buscou controlar narrativas, restringir críticas ou influenciar o fluxo de informações.
As origens: Atos de Sedição de 1798
Ainda no século XVIII, sob o governo do federalista John Adams, foram aprovados os Atos de Sedição e dos Estrangeiros. Essas leis criminalizavam críticas ao governo e permitiam a deportação de estrangeiros considerados “perigosos”. Embora apresentadas como medidas de segurança nacional, foram usadas quase exclusivamente contra opositores políticos, principalmente jornalistas ligados aos Republicanos-Democratas.
Macarthismo e Guerra Fria
Na década de 1950, a “caça às bruxas” liderada pelo senador Joseph McCarthy impôs clima de medo. Jornalistas e veículos de comunicação passaram a adotar autocensura para não serem acusados de simpatia ao comunismo. A resistência mais marcante veio de Edward R. Murrow, da CBS, cujas reportagens televisivas ajudaram a expor os excessos do macarthismo e a recuperar parte da credibilidade da imprensa.
COINTELPRO e vigilância sistemática
Entre 1956 e 1971, o FBI executou o programa COINTELPRO, que visava infiltrar, desacreditar e desarticular movimentos sociais e líderes dos direitos civis. Martin Luther King Jr. foi alvo direto dessas ações, que só vieram à tona após a divulgação de documentos confidenciais em 1971.
Censura em tempos de guerra
Nos períodos de conflito, a imprensa também enfrentou restrições. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Escritório de Censura empregou milhares de pessoas para monitorar comunicações e controlar informações sensíveis. Décadas depois, a invasão de Granada (1983) e a Guerra do Golfo (1991) mostraram novas tentativas de limitar o acesso de jornalistas a operações militares.
Governos recentes: pressões e disputas
No século XXI, as tensões migraram para o ambiente digital. A administração Biden foi acusada por Mark Zuckerberg de pressionar o Facebook a remover conteúdos relacionados à COVID-19. Já sob Donald Trump, as ações escalaram: processos contra emissoras, restrições ao trabalho da imprensa no Pentágono e na Casa Branca, e ataques diretos a jornalistas críticos.
O caso Jimmy Kimmel (2025)
O episódio mais recente envolve o apresentador Jimmy Kimmel, suspenso após críticas ao assassinato do ativista conservador Charlie Kirk. Pressões da FCC e de aliados do governo levaram grandes grupos de mídia a retirar o programa do ar. A reação pública e a mobilização de artistas forçaram a Disney a anunciar o retorno do talk show, mas o episódio expôs o alcance da pressão política sobre a mídia de entretenimento.
Impactos na democracia
Do Ato de Sedição ao caso Kimmel, um padrão se repete: governos americanos, em momentos de crise ou polarização, tentam controlar a narrativa. A diferença contemporânea é a normalização dessas práticas como ferramentas políticas. Especialistas alertam que essa tendência ameaça corroer pilares democráticos, incentivando autocensura e enfraquecendo a independência da imprensa.
