Nas praças digitais do século XXI, um comportamento curioso e contraditório se repete todos os dias: pessoas que rejeitam, criticam e até condenam determinado conteúdo são, paradoxalmente, as que mais o impulsionam. Basta um comentário indignado, um compartilhamento raivoso ou uma sequência de visualizações motivadas pela fúria para que o algoritmo faça o que sabe de melhor: amplificar.

A lógica é simples — mas pouco intuitiva. As redes sociais foram desenhadas para manter usuários conectados pelo maior tempo possível. E, do ponto de vista algorítmico, pouco importa se o engajamento é positivo ou negativo: curtidas e ofensas, aplausos e vaias, todos contam como sinais de relevância. Quanto mais interações, maior a chance de o conteúdo se espalhar.

O cérebro e sua atração pelo negativo

Esse mecanismo se conecta a uma característica ancestral: o viés da negatividade. Nosso cérebro, moldado para detectar riscos e ameaças, responde mais fortemente a estímulos desagradáveis do que a positivos. Se antes isso era essencial para a sobrevivência diante de predadores, hoje nos leva a clicar compulsivamente em notícias polêmicas ou em vídeos de que discordamos — mesmo sabendo que eles nos irritam.

O fenômeno do hate-watching exemplifica bem esse paradoxo. É quando alguém continua assistindo a um programa ou acompanhando uma conta que despreza, motivado por repulsa, mas incapaz de se afastar. O desconforto se mistura à curiosidade, e a interação acaba alimentando aquilo que a pessoa gostaria de ver desaparecer.

O efeito contrário da censura

Outro exemplo desse paradoxo é o Efeito Streisand: tentativas de censurar ou apagar um conteúdo acabam atraindo ainda mais atenção. Ao tentar esconder algo, transmite-se a mensagem implícita de que aquilo é valioso ou perigoso — despertando interesse coletivo.

As consequências sociais

O resultado desse ciclo é amplo: mais polarização, maior difusão de fake news e manipulação do debate público. O bombardeio de informações negativas também impacta a saúde mental, gerando ansiedade, raiva e sensação de impotência.

Caminhos alternativos

Especialistas sugerem estratégias simples, mas eficazes:

  • Ignorar conteúdos indesejados em vez de comentar para criticar;

  • Produzir narrativas próprias, reforçando mensagens positivas;

  • Usar bloqueios, denúncias e filtros das plataformas;

  • Apostar em educação digital para entender como os algoritmos funcionam.

Conclusão

O paradoxo da atenção negativa mostra como nossa energia mal direcionada pode fortalecer aquilo que desejamos combater. Nas redes, cada clique é um voto. Ao compreender esse mecanismo, podemos decidir com mais consciência o que merece crescer e o que deve ser silenciado pela ausência de nossa atenção.