Em momentos de emergência médica, a lógica deveria ser simples: unir esforços para salvar vidas. No entanto, episódios recorrentes no Brasil revelam um fenômeno alarmante — a violência impulsiva em situações de crise. Quando familiares ou pacientes, dominados pelo desespero, agridem profissionais e destroem equipamentos, não apenas falham em resolver o problema, como colocam ainda mais pessoas em risco.

O caso do pai que depredou uma UPA enquanto sua esposa estava em trabalho de parto — culminando na morte da criança — ilustra o impacto devastador de reações descontroladas. Em vez de buscar solução, a destruição transformou a dor em tragédia ampliada.

A psicologia por trás da impulsividade

Especialistas destacam o papel do Transtorno Explosivo Intermitente, conhecido como “síndrome do Hulk”, que leva a explosões de raiva desproporcionais. Além disso, situações de estresse agudo afetam a capacidade de decisão, gerando confusão, taquicardia, tremores e reações irracionais. Em hospitais, essa desorganização comportamental pode ser fatal.

Quando a violência atinge quem cuida

Casos como o do Hospital Guararapes, em Pernambuco, onde um pai destruiu a recepção com um martelo após perder a filha no parto, ou do Hospital Regional de Santa Maria, em Brasília, em que duas mulheres quebraram portas com pedaços de árvore, revelam um padrão crescente.
Segundo o Conselho Federal de Medicina, a violência contra profissionais de saúde cresceu 68% em dez anos. Hoje, 12 médicos são agredidos por dia no Brasil. Técnicos de enfermagem relatam viver sob medo constante: “Um dia vou buscar seu corpo no trabalho”, disse o marido de uma delas.

O ciclo da destruição

Cada ato violento compromete não só o atendimento imediato, mas a infraestrutura da saúde. Computadores quebrados, recepções destruídas e funcionários feridos interrompem cuidados que poderiam salvar outras vidas. O trauma psicológico nos profissionais também é profundo: 80% já sofreram algum tipo de agressão, resultando em estresse pós-traumático e insônia.

Caminhos possíveis

Alternativas existem. Hospitais têm adotado protocolos de desescalonamento, treinando equipes para identificar sinais de agitação precoce. Os Primeiros Auxílios Emocionais oferecem suporte imediato para canalizar o desespero em ações construtivas. Além disso, comunicação empática e estrutura adequada podem reduzir episódios de violência.

Reflexão final

Crises são inevitáveis, mas a violência jamais resolve. Ao contrário, amplia perdas e transforma dor em caos coletivo. A escolha entre destruir ou buscar solução não afeta apenas quem sofre diretamente, mas todos ao redor. Quando a reação impulsiva vence a razão, o resultado é sempre o mesmo: vidas interrompidas e cicatrizes que poderiam ter sido evitadas.