A 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas está em andamento em Nova York desde ontem (22) e seguirá até 30 de setembro, celebrando os 80 anos da organização sob o tema “Melhor juntos: 80 anos e mais pela paz, pelo desenvolvimento e pelos direitos humanos”. O encontro reúne mais de 150 chefes de Estado e de governo em um momento de intensas divisões geopolíticas.
A presidência da sessão cabe à alemã Annalena Baerbock, ex-ministra das Relações Exteriores da Alemanha, que faz história como a primeira mulher da Europa Ocidental a ocupar o cargo e uma das mais jovens, aos 44 anos. Na abertura, o secretário-geral António Guterres destacou que “a paz é possível quando a humanidade se une”.
Brasil abre o debate
Mantendo a tradição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez hoje (23) o primeiro discurso do debate geral. Em cerca de 15 minutos, Lula defendeu o multilateralismo, criticou sanções unilaterais e ressaltou a importância da soberania e da cooperação internacional. O presidente também convocou os países a assumirem compromissos sociais e ambientais mais firmes, afirmando que o sistema multilateral vive uma “nova encruzilhada”.
Crise diplomática com os EUA
O discurso brasileiro ocorre em meio a tensões diplomáticas com os Estados Unidos. Na véspera da Assembleia, o governo Trump anunciou novas sanções sob a Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras, incluindo Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro do STF Alexandre de Moraes. Além disso, Washington mantém tarifas de 50% sobre parte relevante das exportações brasileiras — uma medida que já afeta setores inteiros da economia.
Agenda climática e COP30
Outro destaque é a agenda ambiental. O Brasil vem aproveitando o espaço da Assembleia para promover a COP30, marcada para novembro em Belém. Estima-se que mais de 40 mil pessoas participem do encontro, incluindo cerca de 7 mil integrantes da chamada “família COP”. A expectativa é de que a reunião na Amazônia dê novo fôlego às negociações climáticas globais.
Questão Palestina ganha força
Ainda ontem (22), países como França, Reino Unido, Canadá e Austrália anunciaram o reconhecimento oficial do Estado Palestino, juntando-se a mais de 150 membros da ONU que já adotaram essa posição. O movimento marca uma mudança significativa na diplomacia ocidental e tem forte impacto nos debates da Assembleia.
Inteligência Artificial e governança global
Nesta semana também está previsto o lançamento do Diálogo Global sobre Governança da Inteligência Artificial, acompanhado da criação de um Painel Científico Internacional Independente. A proposta busca estabelecer parâmetros inclusivos e representativos para a regulação da tecnologia.
Olhares para o futuro
Com temas que vão do clima à IA, passando por conflitos como Ucrânia e Gaza, a 80ª Assembleia da ONU confirma seu papel como espaço central de debate. Ao mesmo tempo, expõe os limites de um multilateralismo pressionado por vetos no Conselho de Segurança e por disputas de poder. O Brasil, ao abrir o debate, se coloca mais uma vez como porta-voz do Sul Global e como articulador na busca por soluções coletivas.
