Na manhã de 6 de agosto de 2025, um vídeo de 49 minutos publicado pelo youtuber Felipe Bressanim Pereira, conhecido como Felca, acendeu um alerta nacional. Em menos de cinco dias, a produção ultrapassou 27 milhões de visualizações no YouTube, expondo um ecossistema que transforma a sexualização precoce de crianças em fonte de lucro e que é amplificado por algoritmos de redes sociais.

No centro da denúncia estavam casos como o de Hytalo Santos e sua “Turma do Hytalo”, que exibia adolescentes em danças sensuais e situações sugestivas; Caroliny Dreher, cujos conteúdos pagos eram publicados pela mãe aos 14 anos; e o emblemático “Bel para Meninas”, lembrado como precedente de 2020. Felca também mostrou como o algoritmo do Instagram conecta perfis de menores a usuários mal-intencionados, utilizando códigos como “trade”, gifs “link na bio” e a sigla “CP” (child porn).

O vídeo abriu uma corrida por respostas. O Ministério Público ouviu adolescentes, pais e o próprio influenciador. Perfis foram removidos, propostas legislativas surgiram — como a chamada Lei Felca, que endurece penas contra a erotização infantil — e o presidente da Câmara, Hugo Motta, prometeu prioridade ao tema.

A adultização não é um crime tipificado, mas fere direitos assegurados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), podendo configurar delitos como produção de pornografia infantil ou corrupção de menores. Juristas destacam que, mesmo com o consentimento dos pais, conteúdos com conotação sexual envolvendo menores permanecem ilícitos.

O problema, porém, não se limita a casos individuais. Pesquisas já indicavam que o Instagram é uma das principais ferramentas globais para redes de pedofilia, favorecendo a recomendação automática de perfis semelhantes. Felca demonstrou, na prática, como uma curtida inocente pode desencadear uma enxurrada de vídeos sexualizados no feed de um usuário recém-criado.

As consequências da adultização vão além do ambiente virtual. Psicólogos alertam para impactos no desenvolvimento emocional, riscos de depressão e distúrbios alimentares, e aumento da vulnerabilidade a abusos futuros. Em muitos casos, a exposição nasce de famílias em situação de vulnerabilidade econômica, que trocam a proteção dos filhos por retorno financeiro imediato.

Especialistas defendem medidas urgentes: supervisão ativa por pais e responsáveis, uso de controles parentais, educação digital, denúncias via Disque 100 e limitação rigorosa da exposição de menores na internet.

O caso Felca expôs um choque entre tecnologia, legislação e cultura. O Brasil assiste a um momento de inflexão, onde a indignação pública pode ser convertida em avanços concretos de proteção — desde que plataformas, autoridades e sociedade assumam responsabilidades claras.