Crise tarifária entre Brasil e Estados Unidos escancara uso político de sanções e expõe manobra bolsonarista

 


A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma tarifa de 50% sobre todas as importações brasileiras, anunciada por Donald Trump em julho de 2025, desencadeou uma crise comercial sem precedentes entre os dois países. A medida, com vigência a partir de 1º de agosto, afetou diretamente setores estratégicos da economia brasileira — como suco de laranja, carnes, aço e aviação — e colocou em risco cerca de 130 mil empregos ligados ao comércio bilateral. Mais do que uma disputa econômica, o tarifaço escancarou uma tentativa de interferência política internacional no sistema judiciário brasileiro, com epicentro no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Embora Trump tenha justificado a decisão alegando "desequilíbrios comerciais" e uma postura "injusta" do Brasil, os dados oficiais mostram que, desde 2007, os Estados Unidos mantêm superávit comercial consistente no relacionamento com o país. Em 2024, esse saldo foi de US$ 7,4 bilhões. O argumento técnico, portanto, não se sustenta diante dos números. O que pesou, de fato, foi o componente político. Em seu pronunciamento oficial, Trump condicionou a suspensão das tarifas ao fim do julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, que o ex-presidente americano classificou como “uma vergonha internacional”.

Jair Bolsonaro é réu em ação penal por tentativa de golpe de Estado e outros crimes. Cumpre medidas cautelares determinadas pelo STF, incluindo uso de tornozeleira eletrônica, recolhimento domiciliar noturno e proibição de contato com diplomatas. Investigações apontam que ele e seu entorno político, com destaque para seu filho Eduardo Bolsonaro, atuaram para convencer Trump a utilizar as tarifas como instrumento de pressão sobre o Judiciário brasileiro, na tentativa de inviabilizar ou postergar seu julgamento.

A resposta do governo brasileiro, liderado por Lula, foi imediata. Apesar de manter canais diplomáticos abertos para negociação, o Planalto recusou qualquer tipo de condicionamento político relacionado ao caso Bolsonaro. Setores diretamente impactados — como a Embraer e exportadores de alimentos e metais — iniciaram articulações junto a parceiros internacionais para tentar mitigar os prejuízos. Ao mesmo tempo, medidas internas de contingência e retaliações equivalentes foram colocadas em discussão, num esforço para defender a economia sem abrir mão da soberania.

Politicamente, o episódio reforçou a posição do governo brasileiro diante da opinião pública. Lula adotou um tom firme e nacionalista, denunciando a tentativa de ingerência externa em assuntos internos e usando o caso como catalisador de unidade nacional. A oposição ligada a Bolsonaro tentou atribuir os efeitos econômicos ao STF e ao governo atual, mas nos bastidores cresceu o reconhecimento de que o tarifaço teve origem direta em articulações do próprio ex-presidente com a extrema-direita internacional.

A crise, que mescla interesses comerciais e motivação política, provocou reações duras de parlamentares norte-americanos, analistas e entidades internacionais. O uso explícito de tarifas como ferramenta de pressão sobre o Judiciário de outro país foi classificado como abuso de poder e violação de princípios básicos da soberania. O resultado, ironicamente, foi o oposto do desejado por Bolsonaro: além de não suspender o julgamento, a estratégia internacionalizada agravou sua situação jurídica, trouxe novos elementos às investigações e reforçou a imagem de que o ex-presidente atua fora dos limites institucionais para evitar a responsabilização legal.

Economicamente, o impacto é grave. Estados exportadores como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul estão entre os mais prejudicados, especialmente nos setores agroindustriais. No entanto, os danos não param por aí: o uso de instrumentos econômicos como chantagem política levanta preocupações sobre a estabilidade das relações internacionais e a confiança em acordos comerciais duradouros.

A crise tarifária de 2025 é mais do que um capítulo conturbado nas relações Brasil–Estados Unidos. Ela revela os riscos de se instrumentalizar alianças internacionais em prol de interesses pessoais e expõe o custo coletivo de estratégias que colocam a estabilidade institucional e a economia nacional em segundo plano. A defesa da soberania, da justiça e do Estado de Direito exige maturidade política e responsabilidade — valores que, neste episódio, foram frontalmente desrespeitados por quem deveria ter o dever de defendê-los.