A Polícia Federal concluiu o inquérito que investigou um esquema de espionagem ilegal montado na Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022). Conhecido como “Abin Paralela”, o caso envolve o uso de tecnologia sofisticada para monitorar autoridades, jornalistas, advogados e críticos do governo.
Quem foi indiciado
Além de Jair Bolsonaro, que foi apontado como o principal responsável pelo esquema, foram indiciados:
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Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente;
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Alexandre Ramagem, deputado federal e ex-diretor da Abin;
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Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Abin;
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Outros 33 servidores e agentes ligados à Abin e à Polícia Federal.
Porém, o ex-presidente não foi formalmente indiciado neste inquérito, porque já responde a outro processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por organização criminosa — envolvendo também o uso ilegal da Abin em uma suposta tentativa de golpe de Estado. A PF apontou que não é possível indiciá-lo duas vezes pelo mesmo crime em ações correlatas.
Como funcionava o esquema
O grupo utilizava o sistema israelense de geolocalização FirstMile, adquirido pela Abin em 2018, para monitorar a movimentação de cerca de 10 mil pessoas por meio de seus celulares. Entre os alvos estavam ministros do Supremo Tribunal Federal, o então presidente da Câmara Rodrigo Maia, jornalistas, advogados e até autoridades paraguaias ligadas às negociações de Itaipu.
Uma gravação de reunião realizada em agosto de 2020, que contou com a presença de Bolsonaro, Ramagem e o general Augusto Heleno, foi usada como prova. Nela, discutiam estratégias para monitorar auditores da Receita Federal que investigavam o senador Flávio Bolsonaro.
A responsabilidade de Bolsonaro segundo a PF
A Polícia Federal afirma que Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento do esquema, sendo o principal beneficiário e integrante do núcleo político que instrumentalizou a Abin para finalidades ilegais. O relatório final da investigação aponta que a rede de espionagem tinha como objetivo maior atacar o Estado de Direito, deslegitimar adversários políticos e instituições democráticas.
Próximos passos no processo
O relatório da PF já foi encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), onde tramita o processo relacionado à organização criminosa e tentativa de golpe de Estado envolvendo Bolsonaro. Agora, cabe à Procuradoria-Geral da República (PGR) decidir se oferece denúncia criminal contra os envolvidos, pede mais diligências ou arquiva o caso.
A decisão final sobre o andamento do processo ficará a cargo do STF.
Reações
Carlos Bolsonaro classificou a operação da Polícia Federal como motivada por interesses políticos, sugerindo que há intenção de prejudicar o ex-presidente e seus aliados para as eleições de 2026.
A Agência Brasileira de Inteligência e Alexandre Ramagem não se manifestaram oficialmente sobre os indiciamentos.
O desdobramento desse caso tem potencial para aprofundar ainda mais as disputas políticas no país, mas também reforça a necessidade de preservar os princípios democráticos e o respeito às instituições. A sociedade acompanha atenta os próximos capítulos dessa investigação, que colocam sob holofotes o uso ilegal de órgãos de inteligência para fins políticos.