Botafogo demite Renato Paiva: retrato do imediatismo no futebol brasileiro

Na madrugada do dia 30 de junho de 2025, o Botafogo anunciou a demissão do técnico Renato Paiva. A decisão veio logo após a eliminação do clube para o Palmeiras nas oitavas de final da Copa do Mundo de Clubes. Paiva ficou apenas quatro meses no cargo, com 23 jogos disputados, 12 vitórias, 3 empates e 8 derrotas.

O episódio chama atenção não apenas pelo curto período do treinador no comando, mas também pela forma como ele caiu: poucos dias depois de comandar uma das maiores façanhas da história recente do futebol brasileiro — a vitória por 1 a 0 sobre o Paris Saint-Germain, campeão da Champions League, ainda na fase de grupos do Mundial.

Com apenas 25% de posse de bola, o Botafogo venceu com um gol de Igor Jesus e atuação defensiva elogiada até pelo técnico rival, Luis Enrique, que considerou o clube brasileiro como o que melhor defendeu contra o PSG na temporada. Na ocasião, Paiva dedicou o resultado aos treinadores brasileiros, destacando a capacidade tática e de superação do futebol nacional.

Apesar disso, a derrota para o Palmeiras foi suficiente para selar sua saída, reforçando um padrão já conhecido: a instabilidade no comando técnico dos clubes brasileiros.

Imediatismo estrutural

A demissão de Paiva não é um caso isolado. Ela expõe novamente o imediatismo que rege o futebol no Brasil. Treinadores são exaltados por conquistas pontuais e, na sequência, descartados por tropeços naturais de um processo esportivo. O próprio Paiva passou de “herói” a “problema” em menos de uma semana.

Essa cultura torna inviável qualquer planejamento de longo prazo. O clube parece desprezar a possibilidade de construção e aprendizado, preferindo reações impulsivas a partir de resultados recentes. É um ciclo vicioso que mina o desenvolvimento tático, técnico e estrutural dos times.

Pressão sem filtro

As redes sociais agravaram essa lógica. A cobrança deixou de vir apenas de arquibancadas e programas esportivos, tornando-se permanente, barulhenta e, muitas vezes, desinformada. Treinadores são julgados por recortes de jogos, por clipes de 30 segundos e por análises rasas de comentaristas que seguem a maré.

Nesse ambiente, o técnico precisa não apenas vencer, mas vencer sempre. Caso contrário, é descartado. O histórico não importa. A ideia de projeto se dissolve na urgência por resultados.

Falta de continuidade

Renato Paiva foi o primeiro treinador demitido após a fase de oitavas de final do Mundial de Clubes. Sua saída, mesmo após vencer o PSG, mostra que nem grandes feitos oferecem segurança. A mensagem passada é clara: no Brasil, não existe estabilidade técnica — nem com vitórias históricas.

Renato Gaúcho já alertava para outro ponto sensível: a oscilação de motivação dos jogadores brasileiros. Segundo ele, muitos atletas se mobilizam em jogos contra europeus, mas relaxam diante de adversários do próprio continente. Isso afeta o desempenho e contribui para a queda de técnicos que não conseguem manter a intensidade do elenco.

Conclusão

A demissão de Paiva é sintomática. É o reflexo de uma cultura que privilegia o resultado do dia em vez do projeto da temporada. Enquanto clubes brasileiros não entenderem que o futebol de alto nível exige continuidade, paciência e visão de longo prazo, episódios como esse continuarão se repetindo. E cada vez que isso acontecer, o futebol nacional se afasta um pouco mais da estabilidade e do crescimento que tanto deseja.