A Faixa de Gaza vive mais um capítulo trágico em sua história recente. Em maio de 2025, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu anunciou uma nova ofensiva militar "intensa" contra o Hamas, alegando o objetivo de derrotar o grupo armado e resgatar os reféns israelenses ainda em cativeiro. No entanto, a operação ganhou contornos mais amplos e preocupantes com a aprovação de um plano para ocupar todo o território de Gaza por tempo indeterminado, acompanhado do deslocamento em massa da população palestina para o sul do enclave, sem qualquer clareza sobre seu destino ou proteção efetiva.

A decisão israelense representa uma escalada significativa em um conflito que já dura 18 meses, marcado por breves tréguas, sucessivos bombardeios e um colapso humanitário de proporções alarmantes. Desde o rompimento da trégua em março deste ano, Israel tem intensificado ataques que, segundo organizações internacionais como a Human Rights Watch e a Cruz Vermelha, causaram a morte de centenas de civis e deixaram 63% dos edifícios de Gaza danificados ou completamente destruídos. O bloqueio total de alimentos, água, energia e remédios apenas agravou um cenário já catastrófico.

Um Cenário Sem Precedentes

A ocupação em curso sinaliza uma mudança estratégica na postura israelense. Anteriormente, as incursões militares em Gaza eram temporárias; agora, o objetivo declarado é manter o controle territorial. Essa abordagem provocou condenação internacional, tanto pela brutalidade dos métodos utilizados quanto pela violação do direito internacional humanitário, que proíbe o deslocamento forçado de civis e impõe limites estritos ao uso da força em áreas densamente povoadas.

Enquanto isso, Gaza se transforma em um território devastado e sitiado, com mais de dois milhões de pessoas sem acesso pleno a recursos básicos, vivendo em abrigos improvisados ou ao relento, sob bombardeios constantes.

Os Reféns e a Retórica da Segurança

Do lado israelense, o governo justifica suas ações pela necessidade de segurança nacional e pela urgência em libertar os reféns — causas legítimas que, no entanto, não devem ser confundidas com um cheque em branco para violações sistemáticas dos direitos humanos. A equação é complexa: a presença do Hamas em Gaza representa uma ameaça real, mas a destruição total da região, somada ao sofrimento civil em larga escala, apenas alimenta o ciclo de ódio, radicalização e retaliações.

Onde Está a Comunidade Internacional?

O papel da comunidade internacional tem sido, até aqui, hesitante. Os Estados Unidos — tradicional aliado de Israel — adotaram uma postura mais distante nos últimos meses, o que abriu margem para a intensificação da ofensiva. A ONU, por sua vez, tem feito sucessivos apelos por cessar-fogo e acesso humanitário, com pouca efetividade prática. Sem uma pressão multilateral firme e coordenada, a guerra tende a se arrastar, com danos irreversíveis para a população civil.

Caminhos para uma Solução Justa e Sustentável

Diante da gravidade do quadro, é urgente pensar não apenas em respostas imediatas, mas em soluções estruturais que contemplem os direitos e a dignidade de ambas as populações. Abaixo, propomos um conjunto de medidas que podem compor um caminho viável para a paz:

1. Cessar-fogo imediato e monitorado internacionalmente:
É fundamental interromper a escalada militar. Um cessar-fogo robusto, negociado com mediação de organismos neutros (como Noruega, Egito, Catar e ONU) e monitorado por observadores internacionais, pode criar um espaço mínimo para socorro humanitário e retomada do diálogo.

2. Liberação dos reféns e prisioneiros mediante negociação com garantias mútuas:
A troca humanitária precisa ser tratada com realismo e com o envolvimento de atores com influência sobre o Hamas, como o Catar e o Egito. A libertação de reféns deve vir acompanhada de garantias de que civis palestinos detidos arbitrariamente também sejam liberados.

3. Garantia de acesso irrestrito à ajuda humanitária:
Alimentos, água, energia, abrigo e medicamentos devem chegar à população de Gaza de forma contínua e segura, com corredores humanitários protegidos por missões internacionais sob supervisão da ONU.

4. Retirada gradual e supervisionada das forças israelenses da Faixa de Gaza:
A ocupação prolongada apenas alimenta a instabilidade. É necessário definir um cronograma de retirada acompanhado de um plano de reconstrução e segurança internacional, que evite o retorno imediato de grupos armados e proteja a população civil.

5. Reconstrução de Gaza com apoio financeiro e técnico internacional:
Assim como ocorreu em conflitos como os dos Bálcãs e da Síria, a reconstrução deve ser tratada como prioridade global. Fundos multilaterais e agências especializadas podem coordenar a recuperação de infraestrutura, escolas, hospitais e serviços básicos.

6. Retomada do processo político e reconhecimento dos direitos nacionais palestinos:
A paz duradoura só será possível com a retomada de um processo de negociação que reconheça o direito de autodeterminação do povo palestino e garanta a segurança do Estado de Israel. A solução de dois Estados, apesar de desgastada, ainda representa o horizonte mais justo e viável — desde que haja vontade política real.