Oruam e a romantização do crime: um limite precisa ser imposto

 

A recente detenção do cantor de trap Oruam por direção perigosa reacendeu um debate urgente: até onde a indústria musical deve tolerar e, pior, financiar artistas que fazem apologia ao crime? O episódio levanta não apenas questões sobre responsabilidade social, mas também sobre a influência de figuras públicas na juventude.

A prisão do rapper, se é que pode ser chamada assim, durou pouco. Ele foi solto rapidamente, mas sua passagem pela delegacia foi suficiente para gerar manchetes, alimentar o marketing de seu novo álbum “Liberdade” e impulsionar discussões sobre a chamada "Lei Anti-Oruam", que visa barrar o uso de dinheiro público para financiar shows de artistas que enaltecem o crime.

Não se trata apenas do conteúdo das músicas de Oruam, mas de sua postura dentro e fora dos palcos. Filho do traficante Marcinho VP, líder do Comando Vermelho, Mauro (seu nome de batismo) ostenta tatuagens de criminosos condenados, como Elias Maluco, responsável pelo brutal assassinato do jornalista Tim Lopes. Além disso, suas letras frequentemente fazem referências ao tráfico e ao estilo de vida criminoso, normalizando um discurso que glorifica facções e atividades ilícitas.

A questão aqui não é censura. A liberdade de expressão permite que qualquer artista cante o que quiser. No entanto, o uso de dinheiro público para promover esses artistas é algo que precisa ser questionado. Por que recursos que poderiam ser investidos em educação, saúde ou segurança devem ser destinados a shows que exaltam figuras do crime organizado?

O próprio comportamento de Oruam reforça essa mentalidade de impunidade. Postar um vídeo da sua infração com a legenda “GTA Rio de Janeiro” não é apenas irresponsável, é um tapa na cara da sociedade. Ele romantiza suas ações como se fossem parte de um jogo, ignorando completamente os riscos e consequências do que fez.

O apoio de outros artistas do trap, como Orochi, que pagou sua fiança e criticou a proposta da vereadora Amanda Vettorazzo, só reforça a necessidade do debate. Não se trata de “diminuir o cenário do trap”, como alegam, mas sim de exigir responsabilidade. O trap pode (e deve) continuar a existir, mas sem a necessidade de glorificar o crime como estratégia de marketing.

O sucesso de Oruam, com músicas alcançando o topo das paradas e milhões de visualizações, mostra o poder de influência que ele tem sobre o público, especialmente os jovens. E é justamente por isso que ele precisa ser cobrado. Se a sociedade quer artistas livres para se expressarem, deve também exigir que eles entendam a responsabilidade que vem com a fama.

A música é uma ferramenta poderosa, mas quando usada para romantizar crimes e facções, ela passa a ser parte do problema, e não da solução. Oruam não é um exemplo a ser seguido — e financiar sua carreira com dinheiro público é um erro que precisa ser corrigido.