A ascensão dos influenciadores digitais na política tem transformado as campanhas eleitorais e levantado questões sérias sobre ética, transparência e o uso das redes sociais para manipulação do eleitorado. O caso de Pablo Marçal, empresário e influenciador que concorreu à prefeitura de São Paulo em 2024, é um exemplo alarmante de como essa nova realidade pode ser explorada de maneira abusiva.
Marçal foi condenado a oito anos de inelegibilidade pela Justiça Eleitoral de São Paulo por abuso de poder político e econômico, uso indevido dos meios de comunicação e captação ilícita de recursos. As acusações são graves: ele teria vendido apoio político em vídeos a candidatos em troca de dinheiro, disseminado fake news sobre o sistema eleitoral e disfarçado doações ilegais como arrecadações legítimas.
O impacto de influenciadores digitais na política vai muito além de um simples novo formato de campanha. Diferente de políticos tradicionais, essas figuras já possuem um público fiel, que muitas vezes consome seu conteúdo sem qualquer filtro crítico. Quando um influenciador usa essa influência para distorcer informações, vender apoio político ou atacar adversários, ele transforma sua base de seguidores em massa de manobra.
O caso de Marçal é apenas um dos primeiros sinais de alerta. Se um influenciador pode monetizar diretamente sua influência para beneficiar sua campanha e espalhar desinformação com facilidade, quais são os limites? Como garantir que essa nova forma de fazer política não se torne um território sem lei?
O próprio Marçal nega as acusações e promete recorrer, alegando falta de provas. Mas, independentemente do desfecho judicial, a discussão mais ampla continua: até que ponto estamos dispostos a permitir que influenciadores usem suas plataformas para desequilibrar um processo eleitoral que deveria ser democrático e transparente?
A política precisa se adaptar ao mundo digital, mas sem abrir espaço para práticas que minam a lisura do sistema. O caso de Marçal não pode ser encarado como um evento isolado — ele é um sintoma de um problema maior, que precisa ser debatido e regulamentado antes que a democracia se transforme em um jogo de influência e capital digital.